A moda agora é desintoxicar
Mas as dietas para eliminar toxinas do corpo são inúteis e perigosas, dizem os médicos
Anna Paula Buchalla
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Exclusivo on-line• Em profundidade: Cuidado com as dietas
Chá de efeito laxante, água morna com sal, limonada com pimenta e água mineral – litros e mais litros dela ao longo do dia. É a receita de uma das dietas de desintoxicação mais populares da atualidade, a Master Cleanse. Ao seu redor, orbitam outras dezenas de regimes alimentares amalucados que se propõem a eliminar as toxinas do corpo em prol da boa saúde – e da perda de peso, por que não? Do jejum à lavagem intestinal, agora elegantemente chamada de hidroterapia do cólon, a teoria por trás das dietas e métodos de desintoxicação é a de que, diariamente, inundamos o nosso organismo com substâncias tóxicas: corantes, conservantes, acidulantes, pesticidas e por aí vai. Igualmente tóxicos seriam os resíduos de carne vermelha, açúcar, farinhas brancas, derivados do leite e cafeína. Para eliminar esses "venenos" do corpo, só mesmo lançando mão das tais dietas desintoxicantes. Em uma delas, permitem-se apenas sucos, purês de vegetais e sopas sem nenhum sólido dentro. Em outra, prega-se um dia inteiro à base de cenoura crua. A seguinte se restringe ao consumo de maçãs. Algumas dietas excluem até grãos e vegetais aparentemente inofensivos. Esse cardápio hipocalórico e absolutamente pobre do ponto de vista nutricional pode se prolongar de poucos dias a mais de um mês, para desespero de médicos e nutricionistas. O assunto foi tema de um artigo na última edição da Harvard Health Letter, uma publicação sobre saúde produzida por médicos da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. De acordo com eles, tudo isso é uma grande bobagem. "O corpo humano é capaz de se defender sozinho, e muito bem, das principais agressões do meio ambiente e das indulgências ocasionais", diz o texto.
Os médicos alertam para os riscos dessas dietas de desintoxicação – oferecidas até em spas luxuosos – à saúde de seus adeptos. "A maioria delas é, na verdade, um regime de privação extrema", explica o nutrólogo Daniel Magnoni. As restrições prolongadas podem causar desidratação, problemas nos rins, fraqueza muscular e arritmias cardíacas. Se o intuito é emagrecer, o jejum pode produzir o efeito inverso: ao desacelerar o metabolismo, a restrição calórica severa torna ainda mais difícil perder peso no futuro. A idéia de desintoxicar ou purificar o organismo por meio de jejuns e lavagens intestinais existe há séculos. Assim como caem facilmente no gosto popular, esses modismos saem de cena de uma hora para outra. A Master Cleanse é um exemplo desse movimento pendular: a prática alternativa foi criada na década de 40 pelo guru da nutrição Stanley Burroughs, para tratar úlceras e outros problemas digestivos. Nos anos 70, com o lançamento de um livro sobre a dieta, ela virou moda entre os que condenavam o uso de pesticidas e aditivos nos alimentos. Passou alguns anos esquecida e, mais recentemente, voltou com tudo. Mas o objetivo do jejum agora é outro – perder peso. A cantora americana Beyoncé, por exemplo, enxugou 10 quilos em dez dias. "É claro que se perde peso; afinal, a pessoa está se privando quase totalmente de calorias", diz o endocrinologista Geraldo Medeiros. É um comportamento de risco. Na semana passada, uma inglesa ganhou na Justiça uma indenização milionária – o equivalente a 2,5 milhões de reais – por causa de danos decorrentes de uma dieta de desintoxicação, a Amazing Hydration Diet (a Maravilhosa Dieta da Hidratação). Além de cortar totalmente o sal da alimentação, ela passou a ingerir 3,5 litros de água por dia. Sofreu um ataque epilético e ficou com seqüelas neurológicas, como perda de memória.
Igualmente perigoso pode ser o mau uso das técnicas de lavagem intestinal. Na moda desde que atrizes como Catherine Zeta-Jones e Drew Barrymore confessaram usar o método para perder peso, melhorar o aspecto da pele e afinar a cintura, a lavagem tem conquistado mais e mais adeptos. Atribui-se a ela a eliminação dos resíduos intestinais que causam doenças crônicas, cansaço, depressão e dores de cabeça. "É preciso varrer a sujeira de dentro para fora", explica a nutricionista Sandra Nogueira, adepta da lavagem há pelo menos quatro anos. "Senão, é como passar perfume em uma casa suja. Não resolve", diz. Em sua clínica, ela recomenda de dez a quinze sessões diárias de terapia do cólon. Quem faz jura que sai de lá revitalizado, com uma sensação de leveza e bem-estar. O problema maior, dizem os especialistas, é o uso da técnica a longo prazo. Ela pode causar anemia, problemas cardíacos e diminuição da atividade intestinal. "Esse tipo de procedimento não tem razão de ser", diz o gastroenterologista Flavio Steinwurz, do Colégio Americano de Gastroenterologia. "Nosso organismo tem um trabalho perfeito de eliminação de impurezas", afirma. Em outras palavras, o intestino não necessita de enemas, dietas especiais ou remédios para eliminar o seu conteúdo. Rins e fígado também fazem eficientemente a sua parte na remoção das toxinas. Daí por que, além de perigosas, essas técnicas são absolutamente inúteis e desnecessárias. Conselho dos médicos de Harvard: "Aos sinais de fadiga e de ganho ou perda de peso inexplicáveis, procure um médico e não um spa de desintoxicação".
Desintoxicar para emagrecer
Há cerca de quarenta anos, a prática de limpar o organismo das toxinas por meio do jejum ganhou popularidade nos Estados Unidos. Seus adeptos queriam apenas afastar o risco de doenças. Recentemente, essas dietas têm sido usadas basicamente por quem quer perder peso rápido – caso da cantora Beyoncé, da spice girl Victoria Beckham e da atriz Gwyneth Paltrow.
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